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Caminhando pela cidade vi grandes bonecos de carnaval num terreno baldio, tomado pelo mato. Eles, que haviam brilhado na avenida ao som do samba enredo, reverenciados por uma multidão de foliões, agora estavam espalhados a céu aberto, tomando chuva, sol, vento, sereno. Distantes de qualquer olhar solidário.
Tivessem sido ali dispostos por um artista inspirado e o resultado não seria mais impactante. Fiz então estas fotos e denominei a série de O Jardim dos Enjeitados. Um jardim ao avesso do jardim das delícias, o paraíso com o qual tantos sonham. O jardim retratado pareceu-me demasiadamente humano, demasiadamente terreno. A bem da verdade, nem jardim poderia mesmo chamar-se pois não há trato carinhoso na terra repleta de praga e lixo. Os bonecos, se desmanchando no tempo nesse cenário de abandono, involuntariamente pintam um desanimador quadro da nossa sociedade: oca, bizarra, arruinada, surreal. 

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